Relatos de testemunhas e fontes oficiais informaram nesta sexta-feira que caminhões entregando alimentos foram saqueados em Mogadício, na capital somali. Ao menos doze pessoas ficaram feridas e há relatos de pelo menos sete mortos.
O incidente aconteceu no acampamento de Badbaado, nos arredores da cidade, causando a fuga de centenas de refugiados, segundo as testemunhas.
Segundo as informações, soldados do próprio governo iniciaram um tumulto ao tentarem roubar parte da ajuda alimentar emergencial enviada pelo PMA (Programa Mundial de Alimentos) da ONU. Refugiados que estavam presentes seguiram a ação. Outros membros das tropas oficiais responderam com disparos para apaziguar o caos.
"Foi uma carnificina. Eles impiedosamente atiraram em todos ", disse Abdi Awale Nem, um refugiado no maior campo de Mogadício. "Pessoas mortas foram deixadas no chão e outros feridos sangraram até a morte".
O PMA tenta sempre entregar comida já preparada, para evitar que eventuais tentativas de saques aconteçam. O órgão confirmou o incidente no acampamento de Badbaado, onde vivem cerca de 30 mil refugiados internos.
"Eles atiraram em nós como se fôssemos inimigos", afirmou o refugiado Abidyo Geddi. "Não podemos ficar aqui por muito mais tempo. Nós não temos muita comida e a rara comida que trazem causa morte e tortura".
Sacdia Kassim, somali que trabalha numa ONG local em parceira com o PMA, disse que os saques estão se tornando comuns. "Com frequência testemunhamos forças do governo e residentes saqueando a comida dos refugiados. Sabíamos que esses caminhões com comida seriam saqueados um dia. Eles dão água na boca da milícia do governo", disse ela.
Davir Orr, porta-voz da agência da ONU, disse que a distribuição dos alimentos começou por volta de 6h (0h em Brasília), e transcorreu sem problemas durante cerca de duas horas. "Segundo todos os relatos, a coisa escapou ao controle. Ficou um pouco caótico e o saque dos alimentos começou. Parece que tudo o que restava se perdeu."
De acordo com ele, havia 290 toneladas de milho e óleo para serem distribuídos.
CRISE DE FOME
Cerca de 3,7 milhões de somalis estão ameaçados pela fome, a maioria no sul do país, o que leva centenas de milhares a empreenderem a perigosa jornada até Mogadício e arredores, na esperança de receberem ajuda alimentar.
Só nos últimos dois meses, cerca de 100 mil refugiados chegaram à cidade, e centenas estão a caminho todos os dias, apesar da ameaça representada pelos ataques da milícia islâmica Al Shabab, que controla a maior parte das zonas atingidas pela seca.
O PMA diz que as agências humanitárias só têm condições de atender até 2 milhões de somalis nas áreas mais atingidas pela seca, porque a milícia Al Shabab coíbe o acesso da maioria das agências. Por avião, o PMA conseguiu levar alimentação terapêutica a crianças desnutridas em Mogadíscio e Gedo.
@acert_ com AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
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