O espanhol David Rivas, 33, tornou-se o primeiro europeu a obter licença para dirigir usando apenas os pés.
Rivas, que nasceu sem o braço direito e com o esquerdo muito curto e quase sem mobilidade, foi aprovado nos exames nesta semana.
David Rivas, 33, após o exame prático na Espanha |
Rivas aprendeu a dirigir em um carro adaptado que lhe permite guiar com a ajuda de um comando que ele movimenta com o pé esquerdo, enquanto que, com o direito, freia e acelera.
O espanhol manteve uma média de dez horas quase diárias de aulas na autoescola durante um mês.
"Sempre gostei de carros, desde que era pequeno, mas não via a possibilidade de dirigir até que conheci a autoescola que ofereceu um carro adaptado", afirma Rivas.
Após ser aprovado no exame teórico, em junho teve que convencer a Direção Geral de Trânsito de sua capacidade de dirigir e passou por uma prova específica, onde foi avaliado por um examinador e um médico.
BRASIL
No Brasil, processos semelhantes ao de David esbarram em burocracia, desconfiança e despreparo de examinadores.
O caso de Verônica Góis, 28, está parado há dois anos no Detran-DF (Departamento Estadual de Trânsito).
Ela nasceu sem os braços, adaptou-se e faz tudo com os pés.
Formada em artes plásticas na UnB (Universidade de Brasília), faz direito e trabalha no Tribunal de Justiça do DF, mas não consegue tirar a CNH.
"É um misto de burocracia com má vontade", afirma Góis.
"O primeiro médico foi super grosso e disse que não via possibilidade nenhuma de eu dirigir. Foi preconceito! Ele só me olhou, nem perguntou quais seriam as adaptações", lembra.
Não há, porém, restrições legais a tipos de deficiência no Código de Trânsito Brasileiro para tirar a carteira de motorista, desde que o candidato seja aprovado nos exames.
A brasileira Verônica Góis, 28, tenta tirar CNH há dois anos |
De acordo com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que regulamenta a avaliação, o carro pode ser guiado com os pés, desde que o equipamento atenda aos requisitos técnicos estabelecidos no documento.
É o caso de Carolina Tanaka, 26, que precisou fazer aulas práticas em seu próprio carro.
Ela também não tem os braços e usa um veículo com todos os controles nos pés, incluindo um volantinho no pé esquerdo e acelerador e freio no direito.
A adaptação não é comum no mercado e não há veículos nas autoescolas. O processo de Tanaka só foi liberado pelo Detran depois que o veículo estava pronto, o que demorou um ano. Nem por isso os testes foram mais fáceis.
Adaptação feita no Brasil para carro ser guiado com os pés |
"Como é uma deficiência muito diferente, as pessoas não acreditam na sua capacidade e duvidam de que você vá conseguir dirigir", conta Tanaka.
Ainda no exame médico inicial foi preciso enfrentar provas de força e de flexibilidade, incluindo movimentar diferentes objetos com os pés.
"No final, o médico ainda entregou um celular com teclas bem pequenas e mandou eu discar o número dele. Se o aparelho tocasse, eu estaria aprovada", lembra.
O telefone tocou, e ela já dirige há seis anos.
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